segunda-feira, 11 de julho de 2011

Um Garoto.

Era apenas um garoto
como outro qualquer
que sabia sem saber,
que entendia sem entender,
que vivia por viver.

Era dono do Mundo,
dono do Tudo,
mesmo sem Saber.
Brilhava, mesmo dizendo
que os outros brilhavam.

Se importava, mesmo
não precisando se importar.
Seu riso era sempre
o mais Sincero.

E nessa Sinceridade
via seu brilho refletido
no Outro.

Um garoto
como outro qualquer.
Diferente de outro
qualquer.
Era perfeito, na sua
mais linda imperfeição.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Tudo enquanto lavo a louça.

Ao me encontrar impossibilitada de ir para casa, me peguei examinando meus cadarços. São uma metáfora para minha vida: inconstância. Foi essa a conclusão que cheguei. A única possível, eu diria.
A falta de perfeição com que foram entrelaçados me cravou o peito. Eram desalinhados, não seguiam um só ritmo: uma hora por cima, outra por baixo, indo e vindo a bel prazer. Sem contar com o nó duplo que é necessário para que o laço se mantenha! A necessária contenção da loucura.
E essa loucura só é contida em situações hipnóticas. Enquanto mexo a colher na xícara de café, me transporto para outra dimensão, só voltando quando sou chamada à atenção. Uma interação bonitinha, alguns diriam, mas em realidade, um sofrimento constante de conseguir empilhar os tijolos de um inconsciente em fragmentos. Fazer uma atividade, qualquer que seja, põe essa loucura um pouco mais em linha reta. Enquanto lavo a louça, penso em minha existência, tiro conclusões mirabolantes, idéias inusitadas. Tudo enquanto lavo a louça. Em silêncio. Sempre.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Auto-retrato do avesso.

Definitivamente Rembrandt foi o pintor que mais fez auto-retratos. No total, mais de 100. O que me leva a pensar que ele devia ser MUITO egocêntrico. Ou somente achava que mais ninguém valia tanto a ponto de ser pintado/desenhado, pois falta de modelos não era (ele sempre tinha encomendas).
Isso me fez olhar para meu próprio umbigo. Há muito tempo que penso em fazer o auto-retrato mais maravilhoso do mundo. Planejo-o há pelo menos um ano, mas tenho medo de o concretizar. Provável eu fazer algum tipo de pacto como o Dorian Gray do Oscar Wilde. Seria interessante viver a vida nas premissas de Bukowski e manter a virtude do Dorian Gray. Só não seria muito praticável pelo fato de eu não gostar muito de beber (se bem que de uns tempos pra cá...). Só também, pois a parte das prostitutas e tal não tenho muitos problemas (menos "A Puta de 165 Quilos"..essa eu passo).
Quem me conhece sabe que eu sempre digo que nasci no ano errado. Antes eu dizia que devia ter vivido nos anos 1940 ou 1950..e agora estou até regredindo mais no tempo, culpa da Jane Austen. Mas tudo me leva a crer que não, que tudo está como deveria estar, que tudo é como deveria ser. A personagem Pangloss, de Voltaire (que ensinava a

metafísico-teólogo-cosmolonigologia) diz que "está demonstrado que as coisas não podem ser de outra maneira: pois, tendo tudo sido feito com um fim, tudo existe necessariamente para o melhor fim. Observem que os narizes foram feitos para segurar óculos, de maneira que temos óculos...tudo está o melhor possível".
Tá, devo admitir que essa história de tudo está o melhor possível é muito classe média-alta. É muito fácil falar que tudo está como deveria estar quando se está escrevendo um texto em seu notebook no conforto de sua casa, fazendo um frio desgraçado lá fora, ou no seu castelo, pra ser mais preciso, com o livro Cândido de Voltaire no colo. Mas em se tratando de meu mundinho, tudo está como deveria estar. Por exemplo, me formo finalmente ano que vem, e estou me borrando, como é de se esperar de minha pessoa. Meus auto-diagnósticos continuam, principalmente em noites que bebo demais (ou ao lavar louça [próximo post]), tendo a dar diagnósticos mais honestos e mais precisos sobre todos. Meu consumisto extremo de artigos de cultura útil e eventualmente inútil continua. Sim, definitivamente tudo está como deveria estar.
Mas mais ainda, continuo a temer meu auto-retrato não realizado. Temo também o espelho, esse desgraçado me mostra mais do que eu gostaria. Pois, se não fosse o espelho me mostrando a mim mesma, eu seria quem eu gostaria de ser. E isso não é no plano das idéias não, eu realmente tento viver uma pessoa diferente por dia, e se ninguém notou isso ainda, é pq devo ser muito boa atriz.
Me senti o Woody Allen agora, passar de comédia pra drama de repente. Só que até mesmo o Woody sempre quis escrever drama (ele lia Tchékov também, minha gente). Mas até o drama tem sua pontada de comédia, pode ser que de tanta dureza, existe a necessidade de se rir um pouco.
Então, apesar da chuva, ria. Muito.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

E brilhe, brilhe!

Acordei as 4e30h da madruga com meu estômago tentando digerir o maravilhoso sushi da noite passada, e uma música extremamente alta vinda de além túmulo (era de uma festa, mas assim soa mais legal). Pois ambos não me deixavam dormir, sushi e música alta irreconhecível.
Ligo a TV e pego o "A Vida, O Universo e Tudo Mais" para ler, pois tenho que passar o livro adiante (infelizmente ele não é meu...apesar de já ter pensado seriamente em roubá-lo). Meu pai resolve me trazer um chá para melhorar a minha digestão (11e15 da manhã e ainda estou digerindo, diga-se de passagem), ficamos então conversando sobre as notícias na TV, tempo, atualidades...e digo que vi a notícia de uma atleta que não sabia que estava grávida de 7 meses e deu a luz.
Pois o repórter sai na rua perguntando pra mulherada o que acham disso. Todas dizem ser impossível não saber que está grávida. Uma me chamou a atenção por dizer, QUOTE: "isso é impossível não saber, né, que tá grávida..talvez se ela não tivé um marido, um homem pra cuidar dela, né" Isso me chamou a atenção. Falei para meu pai, ele menciona o fato da mulher não saber muito da vida, viver num mundinho de favela, e blablabla...Mas sabe, sempre que eu vejo essas coisas na TV me dá um pouco de inveja.
Creio que essa inveja seja saber que a vida deve ser bem mais fácil para essas pessoas. Não no sentido financeiro, claro, mas mais pro sentido psicológico. Não possuir um ser falando pra ti o que é certo, oq é errado. Não possuir uma consciência muito elaborada das coisas, pensar menos e fazer mais, simplesmente viver a lá loca!! AHHHHHHH World I'm coming in!! IUHUL
MALDITO dia em que me infiei nos livros em busca do conhecimento! Acho que a primeira frase que devia ter lido em um livro teria de ser: só sei que nada sei. Mas acho que eu na época não devia entender o que o tio sócrates queria me alertar, e eu entraria de cabeça no conhecimento de qualquer maneira. Mas não me entendam mal, só falo isso pois não sei como é o outro lado da moeda, só o meu. E já digo, é maravilhoso e horrível e lindo e bizarro ao mesmo tempo! Pois então na livraria vanguarda aqui da minha cidade eu me perco em um mar de livros, somente para sucumbir de novo naquela frase retumbando em meu tímpano: você nunca lerá todos eles!
YES I WILL!!- NOT
E falando da Vanguarda, pra variar ontem antes do sushi estavamos por lá, eu, Will (meu namorado =3) e André. Brincando (sim, brincando) no mar de livros infantis. O atendente do café finalmente ousa perguntar nossas ocupações: "mindingo!" me vem a doce mentira aos lábios, mas acabo por falar a verdade, "psicologia na furg". "PSICOLOGIA???, ô fulaninha (a outra atendente que não lembro o nome), ela faz PSICOLOGIA??" e gargalhadas, e o inquérito continua, rindo ao saber que André cursa história e que Will acabou de se formar em sistemas para internet. "Eu também já fiz história!" me defendo. Penso agora se isso foi uma defesa realmente, ou se eu queria provocar mais risadas. Obtive mais risadas.
Tivemos que perguntar o motivo das risadas. "É que vocês não parecem que cursam história e psicologia, achei que eram da artes", faz sentido. Mas isso me levou a uma satisfação imensa, que eu sempre tenho quando as pessoas dizem que não achavam que eu fazia psicologia: é a satisfação de saber que meu verdadeiro ser ainda não foi engolido pelo que os outros querem que eu seja. Eu não sou o meu curso, eu não sou o que eu gosto, eu não sou os meus amigos, eu sou isso tudo e MUITO MAIS!! Eu sou o que gosto, sou meus amigos, sou meus livros, sou meu curso, sou tudo! E a negação disso tudo, graças a deus!
Mas principalmente fiquei feliz em saber que pareço das artes, pois assim fico sabendo que meu pouquinho artista insiste em não morrer! Ele é a porcaria do Jack em Titanic, boiando, sabendo que é SÓ SUBIR NA BOIA, que CABE MAIS UM!! (quase grito isso no cinema...) Porém, vejo as pessoas em psicologia e noto que o pessoal do meu curso não tem a tal "cara do curso". Somos um grande misturado de tudo. Tem alguns que parecem "doctors wanna be", são os que absorveram um pouco da luta da psicologia em ter um lugar no que a medicina nos deixou, e tentam ir além! Tem os turistas (todos os cursos tem). Tem os que tu reza para não se formarem, pois você SABE do fundo do seu ser que se isso ocorrer vidas serão arruinadas. Tem os que boiam como o Jack (Jack! JACK!). E tem eu e o ian...meu colega. Somos psicologia e a negação dela. Considero uma colega minha um melhor exemplo que nós dois, da psicologia e da negação dela, mas não sei se era uma por o nome aqui. Minha dica é: seja principalmente a negação! E brilhe, BRILHE! pois a vida é pra ser vivida em sua totalidade, incluindo a negação dela mesma.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Aleatoreidades de um dia que eu devia estar em aula


Esses dias estava eu indo ao cartório eleitoral, onde minha mãe trabalha. Bons tempos que eu era criança e podia dizer, estufando o peito, que minha mãe é chefe de cartório. Ficar uma semana sem ver minha mãe devido ao fato dela possuir a tarefa de coordenar pessoas a contar votos no papelzinho é passado distante, mas fico imaginando na época por que eu achava isso legal e com qual motivação eu estufava o peito pra dizer.

Passei no caminho por uma sexshop/lingerieshop. Um lugar no qual se pode comprar uma calcinha comestível para antes da transa, umas bolinhas do prazer para durante (ou coisa pior - ou melhor, dependendo da pessoa), e uma calcinha normal para depois.

Eu sempre olho a vitrine desses lugares (quando não é só uma escada, claro), mas eu digo SEMPRE. Por que é engraçado ver a concepção do que é sexy em uma bombeira, ou de uma enfermeira (olá enfermeira! Clássica!) ou de uma... FORMANDA UNIVERSITÁRIA?!? Bom, é isso mesmo. Me deparo com uma pseudo-toga e um chapéu daqueles de formando. Obviamente que na hora me vem todas as bobagens possíveis em mente.."Oh, you've been a BAD collage girl..Oh! You WANT your diploma, don't you..."(voz ofegante) entre outras coisas...Mas acima de tudo fiquei pensando: quem compra essa fantasia? Seria uma pessoa que queria MUITO ter se formado e não conseguiu? Ou uma pessoa que gostaria de dar umas palmadas em uma formanda??

Deixando isso de lado um pouco (só um pouco), continuei minha caminhada, e a tempos que eu noto que nas ruas portuguesas de Rio Grande, se as pessoas não estão sozinhas, a tendência é não abrir espaço para eu passar..Eu me sinto tão diminuída com isso. Passei por talvez três ou mais grupos de pessoas que não abriram sequer um precioso espacinho para a passagem de uma pessoinha menor que elas. Continuei com o meu caminho munida de um senso de inferioridade bárbaro, quando vou atravessar a rua. Um carro se põe em meu caminho e o motorista imediatamente faz sinal para eu perceber que ele é uma dessas pessoas legais que deixam os outros passarem. Pensei: ser baixinha não é tããão ruim, ser pequeno dá aos outros essa sensação de que eles tem que me ajudar. Mas lembrei do fator mulher, que nunca me abandonará..Não há como eu saber se não foi o simples fator mulher em ambos os casos.

O que me leva a outra questão, já que estou falando agora de gênero. Que tipo de pessoa leva o twitter a sério? Nunca vi um homem levar a sério a frase: "What are you doing?". Eu não creio que seja pra ser tomado em sua literalidade. Não vejo ninguém escrevendo: "Cagando". Mas a probabilidade de uma mulher levar a sério essa pergunta é maior.

Eu tenho uma amiga que escreve TODOS os dias o que ela está fazendo. Ela acorda e escreve: "Acordei, bom dia!!!". De noite escreve: "Vou dormir gente, é tarde e tenho que acordar cedo". Tipo..nada contra, mas não é meio idiota? Ninguém precisa saber TUDO o que ela está fazendo durante o dia dela..O twitter foi feito para os Stalkers da vida? Para os voyeurs de plantão? Era só pôr o endereço e a rota do dia no twitter então..ia ser mais divertido.

Imagine que legal: está você indo pra aula e do nada sente uma pessoa te seguindo. Você pega o ônibus e lá está ela. Você desce em uma determinada parada e lá está ela. Você começa a se apavorar, sente a respiração ofegante da pessoa cada vez mais perto, começa a sentir repulsa por aquela pessoa. Quando você está começando a ficar apavorado, tentando pensar com o que pode bater na pessoa você lembra: pus minha rota do dia no twitter. Ah!, então tudo bem! Você vira e cumprimenta o cara e ele lhe dá um belo sorriso.

Deve ser uma maneira interessante de fazer novos amigos.

Falando em amigos, por algum motivo eu conheço vários alemães..e o que mais me impressiona é o fato de quando você tem contato com uma nova língua, você sempre quer saber primeiro dos palavrões. Ontem por exemplo encontrei um amigo que faz libras. E adivinhem o que ele me fala: "chegando em aula a professora começa a ensinar como se diz garfo, faca, comer...eu quero saber os palavrões!" E que as palavras dele sejam as minhas! Com ele aprendi a melhor lição de ontem: como se diz putinha relaxada em libras!

É demais! É ótimo xingar alguém assim, e ninguém tem que ficar sabendo que você está xingando ela. A não ser, óbvio se ela souber libras...Ensinei mais tarde naquele mesmo dia ao Giovanni como se diz putinha relaxada em libras. Porque eu acho que o conhecimento não é estático, ele tem que ser passado adiante.

Me encontrei com ele porque fui visitar o Will, que não atende o celular, coisa que me irrita muito! Mas por outro lado foi bom, pois conversei sobre bobagens do cotidiano (a la Seinfeld) e vi, após deixar a pessoa que não me atende quando eu ligo pra ela no celular no motoboy, um pedaço de plástico com o nome da boyband N'Sync! Onde diabos, no século 21 se fala do N'sync?? (tá..eu gosto do N'sync..eu falo às vezes)

Pra terminar, alguns podem estar se perguntando por que diabos aquela foto no começo do blog? É o Andrade provando a camiseta preta (toda preta é difícil de se achar) que ele comprou na Marisa. O legal é que ele foi no provador infantil e achou estranho estar cercado por superheróis da Marvel...Eu tive que por essa foto de alguma maneira...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Vaias, aplausos e felicidade.

Ontem eu fui vaiada ao sair de um ônibus. Não é sempre que isso deve ocorrer com um ser humano, então resolvi que tinha que comentar com o resto do mundo.
Melhor ainda, fui aplaudida ao passar pela roleta. Isso me deixou profundamente feliz. Quantas vezes uma pessoa normal (que não trabalhe em teatro, ou seja cantora e etc e tal) é aplaudida? eu diria que poucas vezes. Talvez, se nunca mais trabalhar em nada que tenha a ver com palmas, uma ou duas vezes no jardim de infância ou na primeira série durante uma apresentação obrigatória e provavelmente bonitinha, onde os pais a cada passo pronunciam em uníssono um grande ÓUMMMMMMMMMM (esse não é um momento para esconder o orgulho que possuem por aquele pedacinho de gente que um dia foi um joelho).
Mas voltando a vaia, achei muitíssimo divertido sair de um ônibus sendo vaiada. O que me levantou a questão: quantas vezes na vida somos vaiados? (novamente, se você não trabalha em teatro e etc..até porque, se você trabalha e está sendo vaiado, desejo a você que a ficha caia logo).
Mas eu realmente fui além das simples vaias divertidas, pensei em quantas vezes alguém falou na minha cara que algo que eu estava fazendo não estava certo. Dependendo da pessoa tem que ter coragem pra fazer uma coisa dessas, amizades podem ser acabadas. Então esse post vai em homenagem as pessoas que sempre jogaram a merda na minha cara (GRAAAAANDEEE Andrade).
Mas agora sério, eu sou uma grande apreciadora da verdade nua e crua. Creio que a sinceridade é a melhor coisa pra se ter com uma outra pessoa. Quando se bota as armas à baixo e se relaciona com o outro (como diria Lacan na psicologia :P), a sensação de vulnerabilidade é incrível, intrigante e assustadora.
Assustadora pelo fato de que nós desenvolvemos essas armas pra nossa própria sobrevivência (no meu caso um trêsoitão), e agora chego eu e digo pra deixarmos pra lá essas mesmas armas que nos ajudaram a sobreviver nesse mundo caótico?! Bom, todos (ou quase todos) que eu conheço são maiores de idade e vacinados, então decidam por suas próprias cabecinhas. Mas tenho que dizer que tal "viagem" de crescimento vale o preço da passagem.
O que me trás novamente à viagem de ônibus mais divertida em tanto tempo (sem contar, é claro à viagem de ônibus na porta). Fui no ônibus com o excelentíssimo André, que gosta de séries, livros e de uma cultura nerd em geral que eu curto. Após passar uma parte da noite na livraria Vanguarda, tomar um café, ir ao "shopping" tomar um chimarrão e falar besteiras, a noite foi fechada com chave de ouro em 45 minutos de palmas, vaias e conversas sobre Seinfeld e comic books.
Meu dia acabou como acabou graças as sábias palavras de minha professora, proferidas no dia anterior. Ela mencionou o fato de nós nos sentirmos culpados por tudo que fazemos. Como exemplo vou me utilizar da situação que ela indicou. Precisando fazer um trabalho, mas sem ter saco pra fazê-lo, ela acaba gastando horas fazendo o tal trabalho de mal grado, no momento que ela diz: "quer saber, que se dane, vou tirar o dia pra fazer o que ei quero e depois trabalho", ela consegue, após fazer o que queria mas não se deixava fazer, terminar o tal trabalho que duraria horas em minutos. Fiquei com isso na cabeça. Quantas vezes fico me sentindo mal, fazendo coisas obrigada e pensando no que eu gostaria de estar fazendo.
Com isso em mente, após descer do ônibus em direção à faculdade (com uma tristeza por motivos pessoais), fui para a aula atrasada. Quando a professora põe no quadro questões para fazer em aula e eu noto que não faço idéia do que ela está falando eu decidi: vou tirar o dia de folga.
Um dos melhores dias da semana, certamente. Vanguarda, palestra sobre cultura gaúcha, café, shopping, chimarão, amigos (otakus, nerds e afins). eu estava sériamente precisando de um dia para descarregar, e imaginem só: cheguei em casa e estudei a matéria das tais questões!
Por isso minha gente: MATEM AULA (na medida certa). Seu dia pode acabar em palmas, vaias e felicidade, como o meu.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Mais um dia como outro qualquer..

Ela estava atrasada. Como sempre, estava atrasada. Ninguém mais sequer ligava para o fato dela estar atrasada, somente ela mesma. É um sentimento de culpa que ninguém deveria sentir, afinal, é uma das culpas mais idiotas que você poderia sentir (fala sério...se sentir culpado por faltar a aula? se sinta culpado por não ter ido à Disney, ou por não ter tempo suficiente pra ler TODOS os livros do mundo, mas certamente não sinta culpa por matar aula).
Ela entrou abruptamente no ônibus com a mente no que estava perdendo, ela não tinha certeza da aula que estava perdendo, mas que se dane também, afinal, já estava perdendo mesmo.
Ela notou que todos no ônibus olhavam pra ela. Devia ser o fato de estar vestida com um colete meio brilhante e por baixo uma blusa "cor-sim-cor-não", um estilo meio chamativo para uma cidade como a que ela vive. Na realidade ela notava que quase tudo que ela usava era bem chamativo para uma cidade como a que ela vive!
Ela se senta então em um dos assentos disponíveis no ônibus. Olha a sua volta, escuta calmamente a sua música. O ônibus então subitamente fica lotado, aquele horário é normal lotar o ônibus, mas devido ao monopólio, ninguém podia falar muita coisa...somente reclamar pro motorista e pro cobrador, como se eles nunca sequer tivessem ouvido algo do gênero.
Ela nota a impossibilidade de descer antes da parada que ela pretendia (já que estava atrasada, ia fazer uma visitinha ao pessoal de outros cursos).
As pessoas começam então a descer do ônibus, ela não consegue, com seu pouco mais de um metro e meio, se sobressair no meio de tanta gente.
Uma senhora é a última em sua frente com uma criança a sair. Por causa da criança ela leva um pouco mais de tempo. Ela aguarda impacientemente para descer.
Eis que quando chega à porta, a senhora, munida da criança, vira e senta em um dos assentos livres perto da porta. "Filha da..", ela pensa, e caminha um pouco mais rápido em direção a porta de saída do ônibus.
Porém, já é tarde demais: o cobrador já havia apertado o botão, sinalizando ao motorista para que feche a porta. "Vai dar!", ela pensa, aparentemente não conhecendo a velocidade que uma porta de ônibus fecha, mesmo freqüentando um desses diariamente nos últimos 5 anos.
O que ela mais temia ocorre: a porta do ônibus subitamente fecha no meio de seu tórax. O braço direito, a cabeça, a perna direita e metade de seu peito para fora. O braço esquerdo, a perna esquerda e metade de seu peito para dentro do ônibus.
"Hmmm", ela pensou. Mas falou: "ah, merda". Realmente não havia gostado muito da situação, na verdade nunca sequer havia imaginado essa situação.
Ela começa então a bater insistentemente na porta com a única mão que possuía para fora do ônibus. Após algumas batidas desiste, começa a murmurar desaforos para si mesma: "só comigo mesmo.." é uma das coisas que mais repete. Vê então que do lado de fora no ônibus há somente uma pessoa na parada. Um jovem que olha meio perplexo com a situação. Sem ter mais o que fazer, ela abana com a mão que possui fora do ônibus para ele, e diz "Oi". Nunca havia imaginado a situação, e muito menos que abanaria e daria um "Oi" brincalhão para um desconhecido, lembrou que se fossem em outras épocas, sairia vermelha e com vergonha de si mesma, que bom que não mais é aquela pessoa!
Quando finalmente o motorista escuta os apelos das pessoas que estão dentro do ônibus presenciando a cena toda, ele resolve, aparentemente por bondade, abrir a porta.
Ela é subitamente jogada do ônibus, tendo em vista que já estava metade pra fora, ela simplesmente continuou o trajeto que estava sendo desferido por seu corpo.
Ela se vira e vê a cara atônita dos passageiros do ônibus, dava pra sentir a perplexidade no olhar deles se perguntando "será que ela está bem?". Mas sim, ela estava bem. Melhor ainda agora que a sua liberdade dada pela constituição estava novamente assegurada, ela ergueu sua mão para os passageiros do ônibus que aos poucos estavam indo juntamente com o ônibus e disse: "valeu" (um valeu bem sarcástico, eu diria). Obviamente que esse valeu não foi para os passageiros, foi para a personificação que agora o ônibus possuia, uma personificação engraçada, mas não necessariamente boa.
Quando ela se virou, viu que o jovem que antes olhava perplexo, agora possui em seu rosto estampado claramente uma mensagem que pode apenas ser traduzida pela frase "Que merda, hein?", misturado com um sarcasmo e um sorriso de deboche.
Ela capta a mensagem e ao passar por ele, sorrindo da situação diz: "Que merda, hein?" e sai a passos largos rindo da situação. O jovem desaba rindo.
O resto do dia ela tem problemas para se concentrar. Não que ela já não os tenha normalmente, mas o rosto das pessoas fica estampado em sua mente. Ela lembra de olhar se o colete não havia sido danificado, tendo em vista que nem pago ele ainda estava (somente meses depois conseguiu pagar o colete ao amigo que pagou pra ela na hora que o cartão “se recusou” a passar na loja). Mas agora somente uma coisa lhe vem à mente junto de um sorriso: "legal..."